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Como alguns anti-hipertensivos ajudam a diminuir a proteinúria?

Foto de perfil de Marcos Cardoso

A adição de anti-hipertensivos às mudanças no estilo de vida é uma medida fundamental para alcançar a meta pressórica de muitos pacientes hipertensos. Alguns desses fármacos também são úteis no tratamento de quadros clínicos associados à hipertensão, como diabetes mellitus, síndrome metabólica, doença arterial coronariana, doença renal crônica (DRC) etc.

Os inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECAs) e os bloqueadores do receptor de angiotensina (BRAs) se destacam em razão de seu efeito renoprotetor, com ênfase para a diminuição da proteinúria. Mas o que, exatamente, o c# tem a ver com as calças?

Tem tudo a ver, se a gente parar pra pensar! O processo de filtração glomerular é mensurado a partir da soma das seguintes forças:

  1. Pressão hidrostática glomerular: a favor da filtração
  2. Pressão hidrostática da cápsula de Bowman: contra a filtração
  3. Pressão coloidosmótica glomerular: contra a filtração
  4. Pressão coloidosmótica da cápsula de Bowman: a favor da filtração
Pressões exercidas contra e a favor da filtração glomerular
Pressões exercidas contra e a favor da filtração glomerular. Fonte: Cierra Memphis / Biorender.

Como a concentração de proteínas na cápsula de Bowman é baixíssima, considera-se que esta última pressão tem valor próximo a zero. Já a pressão hidrostática glomerular, a que mais contribui para o processo de filtração, é determinada por três variáveis: (1) a pressão arterial, (2) a resistência da arteríola aferente, e (3) a resistência da arteríola eferente. E aqui está o pulo do gato: o principal regulador da resistência da arteríola eferente é… a angiotensina II!

O racional proposto é o de que a redução da atividade da angiotensina II mediada por iECAs ou BRAs leva à dilatação das arteríolas eferentes, o que causa a diminuição da pressão intraglomerular e da hiperfiltração. Assim, essas duas classes de anti-hipertensivos tornam-se úteis na redução da proteinúria e na melhora dos desfechos associados à doença renal crônica, já que o controle pressórico é um dos pontos basilares no manejo clínico da DRC.

Por fim, cabe mencionar que os inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (iSGLT2), as famosas gliflozinas, também são úteis no tratamento da proteinúria. O mecanismo envolvido nesse processo está relacionado à constrição das arteríolas aferentes como feedback tubuloglomerular causado pelo aumento das concentrações de sódio na região da mácula densa.

Referências

BARROSO, W. K. S. et al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 116, n. 3, p. 516–658, 3 mar. 2021.

HALL, John E.; HALL, Michael E. Guyton and Hall Textbook of Medical Physiology. 14th ed. Philadelphia, PA: Elsevier, 2021.

SHARMA, S.; SMYTH, B. From Proteinuria to Fibrosis: An Update on Pathophysiology and Treatment Options. Kidney and Blood Pressure Research, v. 46, n. 4, p. 411–420, 2021.

SINHA, A. D.; AGARWAL, R. Clinical Pharmacology of Antihypertensive Therapy for the Treatment of Hypertension in CKD. Clinical Journal of the American Society of Nephrology, v. 14, n. 5, p. 757–764, maio 2019.

STEVENS, P. E. et al. KDIGO 2024 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of Chronic Kidney Disease. Kidney International, v. 105, n. 4, p. S117–S314, abr. 2024.