Os glicocorticoides (GCs) são fármacos que mimetizam os efeitos do cortisol, o famoso “hormônio do estresse”, um esteroide liberado pela glândula adrenal que exerce funções em vários sistemas, incluindo o endócrino, imunológico e cardiovascular.
A secreção do cortisol é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, conhecido como eixo HPA, e também envolve outras duas substâncias: o hormônio liberador de corticotrofina (CRH) e o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH).
Resumidamente, o ACTH, produzido pela glândula pituitária anterior (ou hipófise), estimula a secreção de cortisol pelo córtex da glândula adrenal. A produção de ACTH é controlada pelo CRH, produzido no hipotálamo. O cortisol, por sua vez, exerce feedback negativo sobre a glândula pituitária anterior e o hipotálamo, reduzindo a liberação tanto de ACTH quanto de CRH.

E o segredinho está aqui: a secreção de CRH pelo hipotálamo é fortemente controlada pelo núcleo supraquiasmático, o centro regulador do ritmo circadiano humano, de tal forma que as taxas de liberação de CRH, ACTH e de cortisol atingem um pico nas primeiras horas da manhã e diminuem no decorrer do dia.
Essa base fisiológica sustenta a recomendação de administrar os GCs de uso oral preferencialmente pela manhã para mimetizar o ritmo diurno da secreção de cortisol pelo organismo. Essa estratégia evita distúrbios do sono e também minimiza o risco de supressão do eixo HPA, uma das principais complicações relacionadas ao uso de GCs, sobretudo quando administrados cronicamente.
Em alguns contextos, porém, os GCs podem ser tomados em vários horários ao longo do dia conforme as características do quadro clínico a ser tratado e de outras variáveis. Por isso, deve-se consultar o médico ou farmacêutico para entender qual orientação se aplica em cada caso.
